Conheça um pouco mais sobre a Cantora Ana Cañas:
Ana Cañas faz show no Taquaral, na Praça Arautos da Paz/Lagoa do Taquaral em Campinas, durante o Telefônica Trio Tons, neste Domingo, a partir das 18 horas.
ANA CAÑAS
HEIN?
Se você provou alguma vez o elixir subversivo que um disco de rock pode produzir, saiba que tem agora nas mãos algo que certamente lhe interessa. Prepare-se, aliás, porque dependendo do tempo de abstinência, uma só dose será fatal: seus tímpanos vão viciar. Sem contar que já se passaram dois anos desde a estréia de Ana Cañas em disco, o que torna a espera impossível e a fissura, incontrolável. E, desta vez, o poder de fogo é ainda maior. As canções destiladas por esta acesa compositora abrem as portas do inesperado, numa viagem surpresa pelos novos horizontes de uma mulher que escreve com o fio da navalha. "Hein?" é título de seu novo trabalho e também a pergunta que desfia em 12 faixas, delírios de uma Ana naturalmente inseminada pelo rock e seus antepassados, doce e convulsiva quando canta e compõe. "Caso eu fique viva, só quero diversão", avisa ela, em "Na medida do impossível", canção que bem poderia ser uma espécie de declaração de princípios do trabalho. Com uma voz que é passaporte para todo abuso que der na telha, Ana Cañas não se presta a somente confirmar o bom resultado de seu primeiro álbum, "Amor e caos", de 2007. Dá de ombros, se joga e desafia a mesmice.
"Hein?" começa com "Na multidão", que funde humores e ironias roqueiros: "Eu só sei que, agora, eu vou ficar / Só pra desestabilizar / Eu cheguei querendo só mamar / Mas me tiraram pra dançar". "Ela vai fundo, não tem meio-termo", traduz o parceiro na canção e produtor Liminha. Roqueiro que assinou a produção de zilhões de sucessos da música brasileira, de Tim Maia e Paralamas a Chico Science e O Rappa, ele topou dirigir o trabalho após ser surpreendido em seu estúdio, o Nas Nuvens, pela cantora. Ana havia mergulhado na obra dos Mutantes e estava certa de que Liminha seria "muito louco", ideal, portanto, para o álbum. E foi atrás do músico, integrante da mitológica formação do grupo tropicalista. "E eu nem sabia que ele tinha produzido clássicos que não fossem dos Titãs", conta Ana, que já se daria por satisfeita com a relação do produtor com as duas bandas de São Paulo. A menção ao início da carreira de Liminha agradou. "Aí, achei que ficou interessante", lembra ele, que há tempo não se envolvia em tantas etapas de uma produção.
"Hein?" começou a ser produzido no lendário estúdio Nas Nuvens em março, com Ana já vivendo no Rio. Juntos, ela e Liminha compuseram oito músicas. Amigo em comum, Arnaldo Antunes colaborou em cinco temas. Em dois, sua presença deixa digitais por toda a letra, casos da fotográfica "A menina e o cachorro", que vibra em torno da relação de Ana com o cão Bambu, mascote de Liminha, e a delicada "Aquário" (Os seus olhos claros / O pôr-do-sol / A lua cheia / O aquário / O seu chão macio / O vento / A brisa / O ar / O arrepio"). Já Ana, de alma black e coração blue, seqüestra nossos sentidos com os versos de "Esconderijo" ("Procuro a solidão / Como o ar procura o chão"), dela; atordoa com "Não quero mais" ("Aqui se paga o que aqui se fez, como um salário no fim do mês"), parceria com Arnaldo e Liminha; e arrebata em "Na medida do impossível" ("Veja tudo como é / Planejando a minha fuga / Vou ficando aqui, a pé"), também só dela. Convidado para as sessões de composição, Dadi Carvalho (Novos Baianos, A Cor do Som e Barão Vermelho) logo farejou no caderninho da cantora a letra para a melodia do hino hedonista "Coçando", autoria dos dois. Para completar o repertório, Ana sacou de seus shows a versão para "Chuck Berry Fields Forever". A faixa seminal do álbum Doces Bárbaros (1974), teve o autor, Gilberto Gil, ao violão.
Na hora de gravar, prevaleceu o coração. "A banda não tinha tempo de racionalizar nada. Ouvia a canção e entrava para tocar", conta a cantora. Quase todas as vozes de Ana foram registradas "ao vivo no estúdio", ao lado da formação que a acompanha regularmente: Thiago Big Rabello (bateria), Fábio Sá (baixo e guitarra), Fabá Jimenez (violão e guitarra), Adriano Grineberg (piano e órgão), agora batizados Os Quatro Cavaleiros do Após-Calipso. Liminha, em muitas guitarras, Dadi (violão) e Arnaldo (voz) completaram o time. Entidades ancestrais da blue note, de Nina Simone a Rolling Stones, foram influências carburadas nos arranjos. Assim, "Hein?" chegou a seu formato final. Depois de cantar standards do jazz na noite paulista, ser recebida de braços abertos por brilhantes artistas da música popular, a cantora optou, sim, pelo que desconhecia. "Quem tem preconceito com música, perde", costuma dizer. E esta experiência livre está em canções inesquecíveis de três acordes, destas que agora, munida de um violão comprado na Rua Teodoro Sampaio - a Meca do rock paulistano - e de letras vertiginosas, ela põe no mundo. Este trajeto, do elaborado ao simples, faz a combustão de uma outra Ana Cañas, então desconhecida. "Hein?" é a sua questão maior, um inquieto clamor por diálogo, manifesto corajoso pelo novo nosso de cada dia.
Rodrigo Pinto, Julho de 2009.
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1 comentários:
Muito bom!
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